Eram os deuses seus produtos?

30/08/2014 01:56

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Os deuses invadem os supermercados

O que Nike, Minerva, Apollo, Brahma, Laka e Tang têm em comum?

Estas marcas têm alguma relação entre si?

Aparentemente, não. Mas embora estejamos falando de tênis, sabão em pó, carro, bebidas e doces, estas marcas têm muito mais a ver entre si do que à primeira vista parecem.

Um detalhe bastante interessante que chama nossa atenção é o fato de todas estas marcas serem nomes de deuses e mitos famosos da nossa rica Mitologia Universal.

E os exemplos não páram aí. Podemos citar vários outros, capazes de deixar muita gente perplexa dainte de tantas "coincidências":  Ártemis, Gaia, Dharma, Finn, Coiote, Mazda, Hércules, Saturno, Ceres.

Coincidências à parte, o fato é que tanto Nike quanto Hércules  ou Mazda são nomes de deuses ocidentais e orientais, que nos remetem a uma época em que deuses existiam para ser venerados em templos e lugares próprios.

Lugares guardados longe dos olhos do cidadão comum e cercados de lendas e estórias de um mundo imaginário e fantástico, ao qual os humanos não pertenciam.

Só que, ao contrário disto tudo, hoje vemos essas mesmas imagens às dezenas espalhadas em nossas prateleiras de supermercados, expostas aos olhos de qualquer um.

O que significa isto? Profanação das imagens sagradas?

Não. Há mais coisas entre os deuses e os pontos de venda do que sonha nossa imaginação de consumidor.

 

Marcas que são arquétipos

Mais do que uma simples lembrança de épocas distantes e de outros povos, estas (e tantas outras) marcas com nomes de deuses vêm resgatar imagens muito antigas, que sempre serviram de base para o desenvolvimento de qualquer povo da face do planeta.

Isto é, estas marcas não se referem às expressões plásticas e artísticas de caráter religioso, mas fazem parte de nossa memória cultural, material, racial e genética, desde o começo dos tempos.

Tais imagens sagradas (não necessariamente religiosas) foram denominadas pelo psicólogo suíço Carl Gustav Jung de Arquétipos.

A palavra arquétipo é formada por dois termos gregos, árqueos e tipos. Árqueos significa "antigo", "primitivo", "primordial"; tipos são "impressões", "imagens", "figuras".

Arquétipos, portanto, seriam as primeiras impressões, as primeiras imagens estampadas em nossa memória racial, desde os primeiros tempos de desenvolvimento do homem na Terra.

Seriam as imagens que todas as civilizações e povos, desde as tribos mais antigas às metrópolis mais modernas, têm em comum: imagens de figura materna, paterna, de filho, de mestre velho e sábio, de velha bruxa, de criança, de jovem guerreiro, etc..

Essas imagens universais, esses arquétipos, representam as emoções básicas e primordiais, mais instintivas, que o homem possui como herança de seus ancestrais.

São as experiências de todos os seres humanos somadas, acumuladas, gravadas em nossa memória inconsciente.

Estamos querendo dizer com isto que, não importa a origem, todas as pessoas, de todos os povos, vivem modelos emocionais semelhantes no decorrer de seu processo evolutivo.

A diferença é que cada povo dá a essas figuras arquetípicas a sua visão, as suas características particulares, coloca nelas sua visão pessoal do mundo.

Tais modelos emocionais são como estágios psíquicos  "obrigatórios" pelos quais todos nós temos que passar em nossa caminhada rumo ao auto-conhecimento.

Estudos de Antropologia e Mitologia comparada mostram bem essas semelhanças entre as várias culturas. E o que se conclui é que há uma estrutura básica e universal, composta por emoções, sensações e idéias inconscientes, comuns a todos nós.

Em outras palavras, há provas de que existe mesmo um Inconsciente Coletivo, como definiu Jung, repleto de ensinamentos que são repassados de geração a geração, num processo que dura há milênios.

Um Inconsciente Coletivo vivo, repleto de experiências acumuladas, repleto de arquétipos.

E essas imagens universais, reproduzidas por nossa cultura, aparecem em todas as nossas produções sociais: família, escola, igreja, artes, política e, inclusive, sob a forma de produtos (bens) para o consumo. Elas estão vivas em nosso dia-a-dia.

Nossa Cultura de Massas, fábrica de ídolos e sonhos, está sempre reproduzindo os símbolos e mitos principais de nossa cultura.

Os produtos destinados ao consumo de grandes populações, grandes massas de consumidores, acabam sendo reproduções em larga escala de nossos arquétipos milenares, incrustados em nosso Inconsciente Coletivo social.

Tal reprodução em larga escala de arquétipos pode se dar através dos conteúdos dos meios de comunicação de massa (tv, cinema, rádio, revistas, jornais, etc.), ou sob a forma de marcas de produtos para consumo, que é o tema deste ensaio.


[© Rosy Feros, 1995]

 

 

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